29 julho 2008

20 Minutos Contra Deus


Quando se está escalado para ser plantonista num hospital de grande ou que seja pequeno porte, sempre é imprevisível o que chegará.
Neste último fim de semana, fui submetido a esta imprevisibilidade. Um stress físico e psicológico.
Doze horas trancafiado em alas, da mais leve a mais pesada, dos melhores aos dos piores prognósticos.
Doze horas de correria nos cinco andares de enfermidades.
A correria no primeiro dia explica o cansaço do segundo dia.
Às 18:00 do domingo, sentado já com os atendimentos feitos, estava anotando os que foram atendidos, e pensando ufa! Acabei. Já eu vou descansar!
Às 18:10 o telefone na U.T.I. toca.
- Fisioterapeuta, favor comparecer a emergência!
Deus. Nos últimos segundos do plantão?!
Apesar do cansaço, desci as escadas correndo, pois esperar o elevador é prejuízo.
Uma parada cardíaca foi o que constatei ao entrar na sala de emergência.
O auxiliar de enfermagem fazendo a massagem cardíaca, outro aplicando as medicações próprias ao comando do médico responsável.
Problema que me fez descer até o local:
- O Ventilador Mecânico não ciclava.
Fui até o aparelho que já estava todo montado e ligado. Estava calmo pois já havia participado de procedimentos assim anteriormente.
Revendo a montagem (verificando se os tubos estavam corretamente ligados e acoplados), minha mente fluía, pensando em várias coisas, problemas. Fazendo-me lutar comigo mesmo para fazer meu melhor durante a tentativa de reverter um provável óbito.
O Ventilador mecânico estava montado corretamente e mesmo assim, não ciclava. Depois de analisar, decidi apertar o botão de liga e desliga (não sei o que fizeram anteriormente para causar este problema imbecil). Desliguei e religuei, programei nos parâmetros daquele paciente, e bingo... a ciclagem começou.
sim. mas eu gosto de ter pesadelos (sou excessão da regra da sociedade).
Voltei-me então para o ambú. Assumi o lugar da enfermeira que ali estava.O ambú sendo usado juntamente com a massagem cardíaca, ininterruptamente.
Cansaço...
Minha luta era capricho, comparando-se a luta daquele indivíduo deitado recebendo as massagens, brigando com a morte.
O indivíduo então, começou a sangrar pelo tubo traqueal. Muito sangue.
Chamei alguém para aspirar o sangue para que pudesse continuar a ambuzar o indivíduo. O sangue jorrou pelo tubo ao ser desconectado do ambú. Derramou no chão e algumas gotas em minha roupa. Pelo pescoço do paciente, sangue coalhado.
Era muito sangue!
O desfibrilador foi utilizado uma vez. Nada! A segunda vez. Nada! A terceira vez. Nada! Nem um mísero batimento cardíaco.
Todos com esperança que o batimento cardíaco retornasse. 40bpm que fosse. Iria ser colocado um marcapasso.
Eu continuando a ambuzar. Pensando em tudo e pensando em nada ao mesmo tempo.
Tudo tão rápido...

18:30 - Hora do Óbito.

18 julho 2008

648 Horas Para um Reencontro


Fazemos o possível e o impossível para encontrar alguém especial.
Procuramos... procuramos... procuramos, por fim acabamos deixando o tempo passar e nos fazer entender que o perfeccionismo é apensa coisa de nossa cabeça e que não existe.
Mas o estranho, é que quando desistimos de procurar, e sem ao menos esperar, a história muda e você é encontrado num filete de luz. Nada pode descrever a sensação. vou ser clichê e cantar o refrão de Alanis:

"You've already won me over in spite of me
Don't be alarmed if I fall head over feet
Don't be surprised if I love you for all that you are
I couldn't help it
It's all your fault."

Por incrível que pareça a felicidade sempre mora numa cidade distânte, mas nos deixa no ar a expectativa de reencontro. Ainda faltam 648 horas ou 38.880 minutos ou 2.332.800 segundos.
Mas provavelmente este tempo ja diminuiu, pois estou na contagem regressiva.
Aguardo o 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1...
... e que o fogos comecem.
OBS: E todos falam que é impossível algo a distância. Vou simplesmente dizer "Por você eu faria mil vezes".

10 julho 2008

Projeção de Um Futuro Presente

E passam as estações, me encontro agora numa primavera hostil, já com razões suficientes para poder abandonar-te. Razões suficientes. Coragem pouca. Neste intervalo, muito se perdeu em minha memória, algum resquício ainda se faz presente, como anestesia pós cirurgia. Queria sentir algo novamente, mas o produto da imperfeição me faz anunciar a distância como melhor opção. Encontro respostas em letras deformadas, livros quem sabe, talvez uma música, creio que são minhas companheiras neste momento. Sei que trovoadas virão e passarão. E que bonança se fará presente num futuro distante, o que me faz perceber que sou humano, imperfeito, egoísta e mesquinho. Penso em mim e como lucrar no mundo capitalista. Lucrar, tendo alguém que proclame minha felicidade. Algo utópico, mas que se faz necessário na vida de todos. Alguém que mostre a direção do paraíso. Ter uma “cicrana” boa de atuação, pelo menos o suficiente, para fingir bem as famosas palavras: “de hoje em diante, para o melhor e o pior, na riqueza e na pobreza, na doença e na saúde, para amar-te e honrar-te, até que a morte nos separe”. Felicidade instantânea inexistente. Vou beber uma dose, acho que é coisa momentânea, um surto esporádico. Um pequeno doce neste dia. Assim um novo dia nasce.

04 julho 2008

Sinto Saudades

De quando cavava um buraco na terra, colocando um pé dentro dele, e cobrindo com a própria terra retirada. Era meu castelo.
Do buraco com um plástico. Era meu reservatório de água.
Das colheres perdidas fazendo essas brincadeiras. Rendiam-me umas broncas.
Da minha infância. Lembranças.
Das falsas expressões que ainda vejo mas, que não me afetavam naquela época.
Da velhinha simpática que morreu de desgosto ao saber que seu marido tinha uma amante há anos.
Da vizinha que tinha a santa habilidade de retirar os Tunga penetrans de meus pés por brincar na terra citada.
Do pé de romã no quintal de minha ex-casa.
De minha ex-casa.
Das pessoas que a maioria se mudaram, das que casaram e até das que se mataram.
Dos que foram presos por estupro.
Da cena ridícula gravada em uma fita.
Das situações criadas por meu pai.
Daquela cadeirinha de cordas vermelha que pude aproveitar apenas por seis meses por ser muito grande.
Das piscinas do clube, que por sinal, não tinham proteção em suas bordas, e que pulava sem ter noção da morte.
Das broncas que entravam pela ouvido direito e saiam pelo esquerdo.
Do tempo perdido durante anos de crescimento.
Sinto saudades do amor.
Sinto saudades das minhas velharias.
Sinto saudades de mim.
De você.
Da droga do destino que pra curvas me levou.
Saudades do tempo que não pensava em alguém com sentimentos pornográficos.
Saudades da minha inocência.
Saudades da porra de vida que levava.